sexta-feira, 17 de junho de 2011

A gestão e sua multiplicidade

Escrever sobre gestão fazendo um curso de Psicologia pode, à primeira vista, parecer meio contraditório, mas se levarmos em consideração que a Psicologia atravessa diversas áreas diferentes, veremos que esta é mais uma.
A Psicologia não é uma área que nos possibilita compartimentar o que nos é ensinado, mesmo que o que aprendemos seja passado a nós dessa maneira. Talvez a Psicologia seja a área que mais exija do profissional que se forma uma diversidade, pois as pessoas e suas subjetividades são basicamente os “objetos de trabalho” dos psicólogos, e estes, como vimos até onde já estudamos, não são nada simples. Indo já de encontro ao que o texto de Gaulejac nos oferta, o gerenciamento do nosso tempo, das nossas atividades e, enfim, da nossa vida, é importante para podermos dar conta de tudo o que nos é imposto na atualidade, uma vez que o profissional de hoje deve possuir múltiplos conhecimentos.
Gaulejac em seu texto, “Gestão de si mesmo”, vem nos mostrar a urgência de sabermos lidar com nossos vários aspectos – o pessoal, o social, o econômico, etc. – para, a partir de então, podermos lidar com o mercado e suas exigências.
É claro que nós, como psicólogos, não podemos tratar da questão do gerenciamento esquecendo que por detrás dele existem pessoas, pois se até mesmo quando se trata de mercadoria nos é exigido todo um cuidado, nem que seja para manter a mercadoria em boas condições para fazê-la chegar até o cliente final, que profissionais seríamos, deixando justamente a nossa “parte do mercado”, as pessoas, sem esse devido cuidado?
A gestão vem tomando cada vez mais espaço na vida das pessoas. É preciso saber o que vai ser feito, o momento que cada coisa tem que ser feita, fazer isso da melhor maneira possível, não deixar que o econômico, o social e o pessoal interfiram uns nos outros e ainda arrumar um tempo livre, para que nesse “livre” a pessoa possa se atualizar fazendo algum curso ou procurando algum outro meio de se manter informada. É inevitável que, mesmo com toda essa correria, e até por causa dela, as pessoas adoeçam, se estressem ou, no geral, se sintam mal.
Se o mercado e suas exigências estão mudando, então, logicamente, temos que mudar e nos adaptar a ele, ou seremos facilmente excluídos, como o próprio texto relata, mas não necessariamente devemos fazer isso de maneira “cega”. Com tudo o que aprendemos sobre gestão e cuidado, já temos noção suficiente para saber que não é possível separar os dois conceitos quando se trata de gerenciar pessoas, ou mesmo empresas. O cuidado está implicado em tudo, pois, desde que nascemos até os últimos momentos de nossas vidas, necessitamos dele. O gerenciamento também vem se fazendo muito necessário, e temos que ter um mínimo de noção em relação a ele, pois, se não soubermos gerenciar pelo menos nossa vida – saber o que fazer com nosso tempo, colocar objetivos e metas a serem cumpridos, estabelecer relações, etc. – ficaremos estagnados sem um “Q” de motivação. Se, no entanto, for possível manter essa ligação de conceitos e trabalhar em cima disso, esse será então, o diferencial dos profissionais que nos tornaremos.

Ana Paula Albergaria Tibúrcio

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Gestão de nossas projeções

O modo de funcionamento do capitalismo contemporâneo em que estamos submetidos, transformou a gestão em uma ideologia, que atravessa as fronteiras do trabalho e ultrapassa as relações familiares e individuais.
“Com o desenvolvimento do capitalismo financeiro, as principais características do poder gerencialista se encontram no seio da família.” (GAULEJAC, 2007, p.181)
Estamos a todo o momento nos aperfeiçoando, aprimorando os nossos saberes e querendo sempre mais. No entanto, essa cobrança também é levada para dentro de casa e já não temos mais o espaço privado, pois o mesmo está sendo invadido pela atividade. A família é planejada como uma pequena empresa e são esperados bons resultados. Na relação é investido o capital econômico, cultural, relacional, cognitivo. de saúde e suas capacidades intelectuais, nem mesmo as nossas vontades pessoais como o amor e a sexualidade escapam dessa ideologia gestionária.
“ Gerenciar os conflitos de casal, gerenciar sua feminilidade, assim como sua masculinidade, instaurar uma boa comunicação entre pais, filhos e cônjuges, favorecer a autonomia de cada um em uma interdependência harmoniosa, formar uma equipe que ganha – todas as características do modelo gerencialista estão em ação na esfera familiar.” (GAULEJAC, 2007,p.182)
Há uma absurda e voraz construção social do consumo, da vigília sobre o lucro.O que antes era parte componente da sociedade tornou-se a própria sociedade, fazendo do indivíduo apenas ferramenta para mantê-la lucrando. É interessante relembrar a obra Tempos Modernos de Charles Chaplin (1936), uma inteligente crítica ao esquema de trabalho do capitalismo, homem sendo substituído pela máquina e, ainda assim, se desdobrando para fazê-la operante. Os nossos tempos modernos mostram o que se tornou essa relação homem-máquina-trabalho. Uma relação simbiótica, onde o trabalho moldou o homem e o homem se moldou ao trabalho. A máquina já não controla o homem porque o homem tornou-se a máquina. E apenas isso. A simbiose pode ser definida como uma inter-relação de tal forma íntima entre os organismos envolvidos que se torna obrigatória. Levantamos, então uma questão: nesta relação de simbiose, qual dos dois (lucro - indivíduo) definharia primeiro na fraqueza do outro?
Até mesmo os filhos são alvos de um grande investimento, margem de lucro da sociedade de consumo e objetos de plano de carreira, onde são investidos tanto o capital financeiro como também as projeções. Muitas vezes os pais projetam nos filhos os seus desejos, esquecendo que atrás daquele sujeito existe as suas singularidades e suas vontades. Os pais trabalham para propiciar uma vida que julgam melhor para os filhos, sem perceberem muitas vezes o seu próprio trabalho caminha cada vez mais para o sofrimento, causando um enorme esgotamento intelectual e estresse em suas profissões. Se agente não produz, não inventa e aí nos deparamos doentes. O trabalho é vida! O problema é o excesso. O trabalho deve alimentar a alma e não destruí-la.
Texto por Loren e Tainara

Pensando em praticas de Saúde...

A partir da leitura dos textos: “O cuidado, os modos de ser (do) humano e as praticas de saúde” de Ayres (2004) e “Gestão e Cuidado: notas introdutórias”, percebo que o cuidado ultrapassa os nossos campos do saber acadêmico, que ainda encontra-se em construção. É muito mais que conceitualizar, requer uma pratica, um olhar atento sobre o outro. No entanto, o cuidado é:
“É servir, é oferecer ao outro como forma de serviço, o resultado de nossos talentos, preparos e escolhas.” SILVA & GIMENES (2000, P.307).
Estamos habituados a seguir paradigmas pré-estabelecidos, que gera uma certa sensação de conforto, é como ter a satisfação de dever cumprido. Mas quando nos referimos a “cuidado”, não podemos nos prender a estes paradigmas, para não nos deparamos mais adiante no mesmo sistema do qual nos gera esse desconforto, essa sensação de que estamos a todo o momento desamparados no que desrespeito à Saúde.
Pensando no processo de reconstrução das praticas de Saúde no Brasil, Pinheiro e Matos nos convidam para discursões desenvolvidas acerva da integralidade, ou seja,  tornar nos parte integrante dessa reconstrução, que começa por entende-lo como um processo de humanização das partes envolvidas, buscando trabalhar no sentido de um conjunto de presunções cuja a ética e politica seja o compromisso das tecnociências da saúde, em seus meios e fins, com a realização  de valores contrafaticamente relacionados á felicidade humana e democraticamente validos como Bem comum. (Ayres, 2004). É ampliar os nossos horizontes  normativos quanto às praticas de saúde.
Tomando como exemplo o caso de D. Violeta, Ayres menciona um olhar mais atento sobre o caso (ontologia existencial heideggerina), que possibilitou a recuperação do projeto existencial de D. violeta, ocasionando um vinculo terapêutico, e possibilitando um trabalho de manejo da saúde que faz e/ou fez sentido. Freud, diria que essa relação terapêutica impulsionou o investimento da libido. A partir de nossas praticas é que construímos o diferencial, que torna possível o processo de humanização estabelecida no encontro terapêutico e a sua transformação em cuidado.
È fundamental percebermos,  que o importante para a humanização do sistema de saúde é justamente a permeabilidade do técnico ao não-técnico (paciente) e o dialogo entre essas dimensões. O acolhimento permite a construção de uma relação terapêutica, estabelecendo um cuidado previamente dito.
“O cuidado como designação de uma atenção à saúde imediatamente interessada no sentido existencial da experiência do adoecimento, físico ou mental, e, por conseguinte, também das praticas de promoção, proteção ou recuperação da saúde.” (AYRES, 2004, p.22)
O acolhimento surge como uma proposta de humanização da saúde, por possuir o dialogo e também a relação terapêutica.  Ayres afirma que não é a escuta em si que faz a diferença, e sim a qualidade da escuta que ultrapassa o juiz de valor de boa ou ruim e sim de sua natureza, aquilo que eu quero escutar.
Contudo, acho que é nesse viés que poderemos mudar essa nossa insatisfação para com o cuidado, relacionadas ás praticas de saúde.
Loren Aimèe Jardim Vasconcelos.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Gerenciamento da Essência Humana

No mundo do neoliberalismo, em que estamos inseridos, cada vez mais se preza pelo individualismo. A essência do eu tem sido perdida em função de uma lógica que é exterior ao individuo. “Com o desenvolvimento do capitalismo financeiro, o Ego de cada individuo tornou-se um capital [...]” (GAULEJAC, 2007, p. 177).
Uma organização é composta por recursos, de matérias primas, financeiros, tecnológicos e humanos. Este último, por sua vez, é o essencial para mover a organização, gerando todo o lucro de uma empresa. “O humano se torna o principal recurso da empresa, um fator essencial de seu desenvolvimento.” (GAULEJAC, 2007, p. 178). Desta forma, como todo recurso, ele também é gerenciado tanto dentro das organizações como fora dela.
Nesta lógica cada vez mais voltada para a produção e para o desenvolvimento pessoal, cada um torna-se responsável pelo gerenciamento da sua própria vida, desde bem pequenos. Ocupamos todo o nosso tempo livre com algo que poderá gerar algum tipo de lucro no futuro: aulas de bale, curso de música, cursinhos de idiomas, cursos técnicos, cursos de aperfeiçoamento, entre outros. Cada pessoa torna-se uma micro-empresa, gerenciando os seus recursos, suas habilidades, suas potencialidades, seu tempo para posteriormente servi ao mercado capitalista.

Não se tem nem tempo nem espaço para fazer uma alma para si. Voltado para o próprio umbigo sobre seu quanto-a-si-mesmo, o homem moderno é um narcisista, talvez sofredor, mas sem remorsos. (KRISTEVA apud GAULEJAC, 2007, p. 177).

 Isso é um reflexo de um mundo produtivista, que exige do individuo sempre mais, levando a uma auto-cobrança exagerada, que ao final quem irá usufruir/explorar desse capital humano será as organizações, que são as responsáveis por alimentar o sistema em que estamos inseridos (capitalismo).
"Deste modo, percebe-se que a partir desta lógica o eu sobressai ao coletivo. De modo a tentar a se adequar as regras implícitas ou explicitas deste sistema, o individuo passa a se acostumar com o salário cada vez mais baixo, se acostumar com a falta de segurança, com tempos cada vez maiores no transporte coletivo, ou seja, passam a acostuma-se com as condições pelas quais estamos submetidas. E ainda se culpa por essa desvalorização “do nós”, do trabalhador, do humano. Passando a ter uma naturalização e uma banalização dos problemas que permeiam a sociedade.

Elaine Cristina P. Tavares; Kenya Raphaela G. Januário e Michele de Cássia P. da Silva

sábado, 11 de junho de 2011

A digestão da gestão contemporânea

“O homem habita poeticamente na terra, mas também prosaicamente e se a prosa não existisse, não poderíamos desfrutar da poesia”. (HÖLDERLING citado por MORIN, 2000, p.7).

            Oh! O que fazer agora? O que poderemos dizer, agora que estamos nos despindo de nós mesmas para falarmos de algo que nos atravessa e assombra? Óbvio, refletir acerca dos propósitos que nos deixaram expostas. Então, sem mais rodeios vamos direto ao ponto que nos intriga no momento. A gestão. Porém, não só a que é realizada em empresas, organizações, relações entre outros contextos. Mas, falemos também, da gestão de nós mesmos... Entretanto o que pode ser considerado gestão de si mesmo? Seria uma gestão gerencialista? Possivelmente a princípio parece redundante, mas segundo Gaulejac (2007) é uma forma de gerir bastante “interessante”. Este autor nos diz que “a gestão gerencialista gera uma rentabilização do humano, e cada indivíduo deve tornar-se o gestionário de sua vida, fixar-se objetivos, avaliar seus desempenhos, tornar seu tempo rentável. (...) a vida humana deve ser produtiva” (GAULEJAC, 2007, p. 177).      Parece um discurso convincente, ou no mínimo bonito, a não ser pela estranheza de se estar pensando na própria vida como se fosse apenas um plano de carreira. Falar de gestão de si requer cautela e um pensar reflexivo. Pois, a que ponto de total compulsão obsessiva a sociedade contemporânea chegou, para que se discuta a vida, o sonhar e o desejo pela lógica do capital? Há no discurso atual uma ideologia cruel e alienante, com qual é necessário ter muita atenção para que não se deixe levar.
            É importante que fique claro, que não temos a pretensão de desconsiderar ou inferiorizar a gestão aqui. Mas, queremos, com certeza, problematizar a atual forma de gerir. Será que gerir própria vida significa apenas se planejar em termos de rentabilidade e traçar metas profissionais? Será o ego um capital que precisa frutificar? Será o humano um capital? Por favor, será que se pode, em pelo menos um instante, pensar um acordo de convivência pacífica entre o gerir e cuidar? Afinal, uma ação não exclui a outra. Pensem conosco. O cuidar não diz uma humanização, do respeito e atenção ao outro? E a Gestão de Pessoas, por exemplo, não tem a missão de humanizar as organizações? (Aprendemos isto este semestre!) Então parece tão óbvio que todo gerir diz de um cuidado vice-versa.
             Mas, não é isto que ocorre na prática, insistimos em convocar o capitalismo para habitar todas as nossas ações e relações. É impressionante como que tudo fica tão bem descrito, claro e explicado quando se fala a partir de uma ótica financeira.  E é ai que reside à crueldade, pois, ao se negociar o viver, acaba-se por fragmentar o entendimento acerca do mundo. E logo, fica fácil falar de capital humano, moeda humana. E ouvimos e reproduzimos tais conceitos sem compreender a ideologia que os compõem.
            Lógica esta, que nos faz buscar formas mais lucrativas ou que proporcionem mais resultados para se gerir famílias, amores, sonhos, desejos e a própria sociedade. Lembrando que isto deve ser feito calculando-se resultados a curto, médio e longo prazo. E o melhor da história, a “Just time”, para que não se perca nem um minuto do desenvolvimento dos filhos, da convivência com os pais, dos almoços em família e etc.
            Como se percebe falar de gestão de si mesmo em contexto contemporâneo tem sido falar de planejamento, de traçar metas para o futuro, de elencar objetivos, pensar subsídios enfim falar de desenvolvimento. E claro, não se pode esquecer que “as novas tecnologias permitem instalar seu escritório em seu domicílio”, assim “o tempo livre pode ser aproveitado da melhor forma possível.” Mas, se tudo está tão mais fácil de gerir, por que as pessoas têm ficado tão estressadas? Por que as relações têm durado tão pouco? Não que tenham que durar muito, mas tanto tem se falado de angustia causada por solidão.
            É simples a resposta, a forma de gestão que tem sido desempenhada atualmente não concebe a possibilidade de coexistir junto ao cuidado. E o discurso atual tem nos levado a pensar a gestão amplamente, incluindo-a até mesmo no registro da afetividade, da sexualidade, do sonhar e do escolher. Assim, conseqüentemente o cuidar e a humanização tem se retirado aos poucos de todos estes lugares. Talvez seja esta a causa de tanta angustia e depressão. Então se propõe que pensemos juntos, como gerir e cuidar ao mesmo tempo?
            Espera-se que estes questionamentos sejam, de alguma forma, capazes de nos ajudar a mastigar a gestão contemporânea. E então, potencializar o processo de digestão destes conceitos que permearam as nossas aulas ao longo do semestre. Afinal, não se pode mais engolir os conceitos sem mastigá-los. A azia está ficando insuportável...



Josiane A. Martins de Ávila e Wanessa Mara da Paixão.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cuidado e o Acompanhante terapêutico (AT)

A seguir um texto extra produzido pelo grupo: Débora Franco, Diego Silva, Elisabeth Rodrigues, Juliana Bretas, Kenya Aline e Vanessa Paes

O termo cuidado vem perdendo a conotação da clínica entre quatro paredes e deixa de ser uma ação humanitária e passa a ter também uma conotação técnica. Porém este termo em uma conotação muito ampla que perpassa várias áreas. E que pode estar abrangendo tanto o saber científico quanto o do senso comum.

“Trataremos aqui do cuidado como um constructo filosófico, uma categoria com a qual se quer designar simultaneamente, uma compreensão filosófica e uma atitude prática frente ao sentido que as ações de saúde adquirem nas diversas situações em que se reclama uma ação terapêutica, isto é, uma interação entre dois ou mais sujeitos visando o alívio de um sofrimento ou o alcance de um bem-estar, sempre mediada por saberes especificamente voltados para essa finalidade” (Ayres, 2003, p. 74).

Por isso pensamos em falar do trabalho do acompanhante terapêutico, já que ele perpassa pelo modo do cuidado que o senso-comum atribui que é muito parecido com o conceito do dicionário: 1. Atenção especial ou precaução; cautela; prudência ; 2. Responsabilidade, encargo, incumbência; 3. Zelo, desvelo, dedicação. Etc. E também pelo cuidado voltado para a diminuição do sofrimento do sujeito a partir de técnicas, embasamentos teóricos e científicos por trás da ação.

O trabalho de um acompanhante terapêutico é o como já advém da palavra acompanhar o sujeito portador de um sofrimento, uma patologia, que o impede de ter um nível de autonomia e suprir suas necessidades básicas sozinho.  O profissional que trabalha como acompanhante pode proporcionar ao sujeito uma cobertura de 24h no dia. Em sua jornada de trabalho o acompanhante muitas vezes, troca fralda, alimenta o sujeito, e outras práticas de zelo ao paciente, porém mais que isso o profissional, segundo Cunha e Vieira (2009) possibilita no seu trabalho uma vida melhor, habilitando ou reabilitando funções psicomotoras e facilita a inclusão social.

O AT inseri o sujeito no cotidiano, ele o prepara para que a cada dia o paciente consiga ter mais autonomia, dentro das sua limitações, é claro. Às vezes pensamos o trabalho do AT como um profissional que se sujeita a ser babá do paciente, e a cuidar do sujeito naquela concepção do senso comum, de zelo, dedicação e esquece que o trabalho dele promove a diminuição do sofrimento do sujeito e o prepara para o cotidiano e que por trás ele está atuando com técnicas e embasamento teórico.

REFERÊNCIA:
AYRES, J. R. C. M.Cuidado e reconstrução das práticas de Saúde. Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.8, n.14, p.73-92, set.2003-fev.2004.
AYRES, J. R. C. M.O cuidado, os modos de ser (do) humano e as práticas de saúde. Saúde e Sociedade v.13, n.3, p.16-29, set-dez 2004.
Psicomotricidade: educação especial e inclusão social/ organizadores Carlos Alberto de Mattos Ferreira, Maria Inês Barbosa Ramos. 2ed. – Rio de Janeiro: Wak Ed, 2009.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Na era da “Gestão gerencialista”, o que “fazer” psicólogos?


Por Cláudia Cirino, Eulália Silva, Fernanda Kevellin, Jaqueline Santos e Poliana Dantas
Ao longo da história das organizações e do trabalho a psicologia vem tentando afirmar o seu papel na compreensão e intervenção sobre os fenômenos que se estabelecem nas práticas institucionais e nas relações de trabalho. Entende-se que não é possível a compreensão do homem de forma completa sem levar em conta suas interações sociais, em especial as vivencias e relações que são criadas a partir de seu ambiente de trabalho. Considera-se que o “estar empregado” é fator preponderante para segurança e afirmação social do ser humano.
Ao nos confrontarmos com a realidade que nos cerca a respeito de como as sociedades se formaram, como se deu as divisões das classes, assim, nos deparamos com a futilidade consumista do sistema capitalista em que vivemos. Assim, o nosso sistema econômico ao longo dos anos sofreu grandes modificações, dentre elas o medo real de se perder uma conquista profissional.
Para Gaulejac (2005) o “conformismo, a passividade, e o sonho de conquistar o primeiro emprego, o de se manter no atual” trouxeram conseqüências bastante comprometedoras para a relação do homem/trabalho. Veta-se a autonomia e a individualidade do sujeito e o coloca frente a uma nova formação econômica, sem uma vida independente, formando-se uma nova ideologia, a de que a ampliação do sujeito em convívios sociais depende de sua inserção. Para Gaulejac (2005, pg. 8) “o sujeito busca seu lugar de pertencimento do seu espaço de convívio”.
Assim, mediante a crescente transformação e complexidade que atravessam nosso mundo globalizado o centro das atenções tem se voltado para o sujeito produtivo, bem sucedido e “ajustado” socialmente. Na nova ordem mundial tudo é business, cada indivíduo é convidado a vender- se para enriquecer. O comércio se torna a finalidade da vida humana, sua razão de ser.
De acordo com Gaulejac (2007) com o avanço do capitalismo financeiro e da tecnocracia tem se buscado cada vez mais a padronização do ser humano. Sendo que as práticas de “gestão gerencialista” têm promovido a rentabilidade humana. Assim, cada indivíduo deve ser capaz de gerir e organizar sua vida traçando metas e objetivos que possibilitem um melhor desempenho proporcionando, inclusive que o tempo se torne rentável.
Conforme Gaulejac (2007), as atuais teorias do gerencialismo se fizeram presentes nas empresas e no setor público na década de 1980, tanto na França quanto na Inglaterra e nos Estados Unidos. A partir disso, apareceu o problema de conciliar as dimensões política, econômica e social nestes países e até os dias de hoje setores franceses nacionalistas são contra a globalização e elaboram críticas e barreiras simbólicas contra ela.
A psicologia tem contribuído de certa forma para afirmação do modo gerencialista de gestão. Desde o principio o olhar da psicologia, no Brasil e no mundo, esteve voltado para o desempenho do trabalhador atrelado a eficiência dos serviços prestados às organizações. O papel do psicólogo no trabalho sempre esteve ligado à seleção de pessoal e o uso de testes psicológicos com o objetivo de proporcionar o ajustamento dos indivíduos aos cargos dispostos. Característica que tem influência direta da Administração Científica de Taylor que tinha como princípio o estabelecimento de práticas organizacionais que tornassem os empregados mais produtivos e eficientes, dentro do menor tempo possível.

“O campo de aplicação, até meados da década de 30, centrava-se em estudos e intervenções junto aos incentivos financeiros, treinamento no trabalho, fadiga e monotonia, luminosidade e ventilação, testes de admissão, estudos de tempo e movimentos, turnos de trabalho, segurança e disciplina. Nas décadas seguintes, expandindo-se também nos demais países industrializados, as atividades do psicólogo e de outros profissionais ligados às ciências do comportamento dirigiram-se para os incentivos não financeiros, liderança e supervisão, relações interpessoais, atitudes dos empregados, moral no trabalho, avaliação de executivos, relações homem - máquina, entrevistas e aconselhamento” (BASTOS e ZANETTI, 2004, p. 468).


No modo gerencialista de ser, de acordo com Gaulejac (2007), é proposto aos empregados e até os desempregados a ideia de empreendedorismo. E assim, o humano passa a ser gerenciado como um capital ou uma mercadoria comercializada pela organização. Desta forma, “cada individuo pode ser objeto de uma avaliação ‘objetiva’ sobre aquilo que ele produz para a sociedade. A sociedade gestionária tem hoje os meios para medir a rentabilidade efetiva de cada ser humano, como se faz nas empresas” (GAULEJAC, 2007, p.179).
A família também passa a ser administrada como uma empresa. Pais investem em filhos para que se tornem bem sucedidos e “empregáveis” futuramente, suprimindo todo tempo livre com atividades diversas: natação, inglês e outras “especializações”.
Este suposto gerencialismo também pode ser visto de outra maneira. Segundo Ceccarelli (2001) vivemos na “cultura do narcisismo”, onde a cultura determina a imagem do tipo pais “ideais”, enquanto recebe de volta o tipo ideal de filho. Reproduzido pelo que o autor chama de era dos “especialistas” que estabelecem regras de como fazer com que o individuo seja “normal”. Assim:

Os filhos transformam-se no espelho do narcisismo dos pais onde é projetado o status social (...) gerando, entre pais e filhos, um circuito perverso de retroalimentação. Não raro, esta situação gera uma imagem narcísica infantil supervalorizada que pode impedir a construção de limites e de respeito aos direitos dos outros. (CECCARELLI, 2001)

Por este aspecto entendemos que os pais esperam se realizar nos filhos. Ao passo que também temem que estes repitam os seus possíveis fracassos. Deste modo, tentam a qualquer custo impor os meios necessários para que seus filhos sejam “bem sucedidos”. O que vai de encontro à meta imposta pela gestão gerencialista que não disponibiliza espaço paro sujeitos “fracassados”. Tal perspectiva vai de encontro às afirmações de Gaulejac (2007) de que a “gestão de empresa e gestão de si mesmo obedecem às mesmas leis. Trata-se de racionalizar a produção dos homens com o modelo da produção de bens” (p.196).
Os pais ficam ansiosos, pois precisam preparar o filho para as condições que a sociedade “hipermoderna” impõe sobre ele, os pais procuram fazer com que seu filho se torne um indivíduo autônomo, ativo, bem consigo mesmo capaz de se submeter e aguentar as exigências do mundo do trabalho, aceitar as normas, submissões, obrigações e etc. Tal fato, contudo, parece estar gerando efeito contrário. O que temos percebido em nossa sociedade, como reflexo desta era gerencialista, são pessoas cada vez mais frustradas. Embora tentem obedecer a lógica gestionária os indivíduos estão adoecendo mais. Afinal são humanos – “carne e osso” e não uma máquina a ser regulada.
Importante dizer que temas como estes geram um espaço amplo ao debate. Pois entendemos que, inclusive, os psicólogos tem se submetido a esta era gerencialista e também contribuído para sua prevalência. É preciso, neste momento, rever o “fazer” do psicólogo. Cabe a este profissional despir-se de seu “suposto saber”, a fim de construir e/ou reconstruir os modos de intervenção dentro das práticas de gestão. É necessário que a suposta “neutralidade” dê lugar à curiosidade e questionamento. Entendendo que além de competência técnica o psicólogo precisa ter sensibilidade para analisar além do sujeito “produtivo”. É pensar que esta forma de gestão gerencialista acaba gerando impactos psicossociais, especialmente sobre a qualidade de vida e saúde deste sujeito, seja no âmbito individual ou coletivo o que requer implicação e posicionamento constantes do psicólogo frente a estas questões.