quinta-feira, 14 de abril de 2011

PENSANDO, REFLETINDO, DELIRANDO ENTRE OUTROS...

Pensando nas práticas de assistência a saúde nos dias atuais uma grande discussão se levanta em torno de que cuidado é esse que está sendo ofertado à população enquanto um todo. Muitas vezes, dentro dessa prática a dimensão do sujeito tem sido desconsiderada no seu sofrimento biológico. O ser biopsicossocial tem sido na verdade dissociado e visto como um ser atravessado por questões isoladas. Ou seu sofrimento é biológico ou é psíquico e na maioria das vezes, o que se percebe é uma atenção voltada para um sujeito que parece ter esses fatores separados um do outro.
Com isso a dimensão do cuidado com o sujeito e da humanização nos processos de atendimento parecem ser desvalorizadas. Como se pode confirmar na leitura do texto base, a simples presença de um saber prático torna um atendimento ou mesmo intervenção uma forma de CUIDADO, uma forma de humanizar as relações indivíduo/práticas de saúde. No entanto, muitas vezes essas práticas não são adotadas pelos profissionais da saúde.
Percebe-se que essa dimensão do cuidado, da atenção voltada para o sujeito precisa ser ponderada. As pessoas estão cada vez mais vulneráveis; São situações de estresse, depressão, fobias, transtornos mentais, pressão alta, e doenças das mais diversas ordens. O desenvolvimento capitalista e seu movimento acelerado têm comprometido cada vez mais a saúde das pessoas. Tudo hoje em dia tem se tornado prático e substancial. Até mesmo as relações sujeito/sujeito. A essência dessas relações interpessoais têm se perdido em meio a tantas mudanças e revoluções advindas das novas relações surgidas entre as pessoas. Hoje em dia as pessoas não têm tempo para dar atenção, não têm tempo para conversar, não têm tempo para fazer nada. E com isso, o sujeito vai perdendo espaço, referência e lugar, dentro de suas próprias relações interpessoais.
Reportando-se ao texto base, pode-se esmiuçar como a relação dialógica ainda é a condição básica de inflexibilizar as relações hoje tidas como superficiais. Como afirma Ayres, 2004, p.23: “Poder ouvir e fazer-se ouvir, são pólos indissociáveis de qualquer legítimo diálogo”. O autor ainda diz que: “A abertura a esse autêntico interesse em ouvir o outro... é que tornou possível ao profissional ouvir-se a si mesmo e fazer-se ouvir, não se conformando ao papel exclusivo de porta voz da discursividade tecnocientífica. Esse diálogo leva-nos a pensar na discussão que Balman trava quando teoriza acerca do amor líquido, ainda que sua teoria esteja mais voltada para as relações de amor entre os sujeitos. Chiconini (2010), citando Balman afirma que,

De acordo com Bauman (2004), o modo capitalista e seu crescente apelo consumista se refletem na maneira como nos relacionamos uns com os outros, isto é, nos relacionamos com nós mesmos e com o outro de forma superficial, frágil, instantânea e descartável.

Podemos refletir sobre esses apontamentos trazidos na teoria de Balman para refletir sobre o modo de funcionamento da sociedade, nos dias de hoje e as conseqüências advindas desse modo de funcionamento.
Outro aspecto importante a ser levantado aqui, é pensar na forma de diálogo e de escuta desse profissional para com o sujeito. Como o próprio texto base aponta, não é a escuta propriamente dita que vai promover a diferença, mas sim a maneira, a qualificação dessa escuta. Acredita-se que para além de pensar no problema daquele sujeito, ou mesmo de tentar diagnosticar qual o seu sofrimento naquele momento e qual o medicamento a ser prescrito afim de estagnar o problema imediatamente, deve-se se atentar para o que está para além da queixa desse sujeito. Muitas vezes o sofrimento do sujeito está vindo de outra ordem que não só do biológico e na maioria das vezes isso não é percebido.
Enfim, reflete-se que envolto a todos esses apontamentos, demanda-se do profissional para com o sujeito e mesmo ao contrário, do sujeito para com o profissional, uma relação de inter-subjetividade, de acolhimento, de responsabilidade. Demanda-se o cuidado, a humanização dessas práticas.

3 comentários:

  1. Bacana o texto garotas, mas será que a organização social atual, basicamente pautada no capitalismo só banalizou as relações ou as transformou. Será que essa civilização não deixa nenhuma brecha para a produção de saúde? Ou para a invenção de novas formas de cuidado? O que seria saúde?

    Pequenas provocações e vamos conversando...

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  2. Será possível ligar o novo conceito de sociedade, a sociedade do consumo e da produção, às palavras de Plauto em sua obra Anisaria (Séc. I A.C.)"Homo homini lupus"? O homem, lobo do homem, pode ter criado uma sociedade tão esperada, tão calculada e previamente moldada, que ela se tornou seu lobo ainda mais do que ele próprio?
    A sociedade de produção, na qual vivemos, evoluiu a um estado de menos diálogo e mais ação. De menos tempo e, consequentemente, muito menos calor humano. A grande procura pelo atendimento no campo da saúde só diminuiu o tempo disponível para estes atendimentos e, consequentemente, parece ter ocorrido uma banalização da atenção à vida pessoal do paciente. O que quero dizer é que tudo parece se tornar uma bola de neve que cresce ininterruptamente. Cada vez mais procuras, muitas delas demonstrando uma necessidade de atenção à vida psicológica do individuo e, cada vez menos esta atenção lhes é dada, devido a esta grande procura e ao curto tempo.
    A necessidade de mudança é urgente, contudo, não se pode culpar completamente o modelo de vida contemporâneo, já que, mesmo nesta corrida contra o tempo, novos meios de tratamentos, terapias, atendimentos, são discutidos, analisados e buscados. É preciso reiniciar estes modelos de acolhimentos e tratamentos para que até mesmo os tratamentos (físicos e psicológicos) se tornem mais eficazes, reduzindo assim o tempo normal que durariam, mas aumentando tanto a sua qualidade quanto a qualidade de vida dos indivíduos neles envolvidos (o sujeito profissional e o sujeito enfermo).

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