sábado, 11 de junho de 2011

A digestão da gestão contemporânea

“O homem habita poeticamente na terra, mas também prosaicamente e se a prosa não existisse, não poderíamos desfrutar da poesia”. (HÖLDERLING citado por MORIN, 2000, p.7).

            Oh! O que fazer agora? O que poderemos dizer, agora que estamos nos despindo de nós mesmas para falarmos de algo que nos atravessa e assombra? Óbvio, refletir acerca dos propósitos que nos deixaram expostas. Então, sem mais rodeios vamos direto ao ponto que nos intriga no momento. A gestão. Porém, não só a que é realizada em empresas, organizações, relações entre outros contextos. Mas, falemos também, da gestão de nós mesmos... Entretanto o que pode ser considerado gestão de si mesmo? Seria uma gestão gerencialista? Possivelmente a princípio parece redundante, mas segundo Gaulejac (2007) é uma forma de gerir bastante “interessante”. Este autor nos diz que “a gestão gerencialista gera uma rentabilização do humano, e cada indivíduo deve tornar-se o gestionário de sua vida, fixar-se objetivos, avaliar seus desempenhos, tornar seu tempo rentável. (...) a vida humana deve ser produtiva” (GAULEJAC, 2007, p. 177).      Parece um discurso convincente, ou no mínimo bonito, a não ser pela estranheza de se estar pensando na própria vida como se fosse apenas um plano de carreira. Falar de gestão de si requer cautela e um pensar reflexivo. Pois, a que ponto de total compulsão obsessiva a sociedade contemporânea chegou, para que se discuta a vida, o sonhar e o desejo pela lógica do capital? Há no discurso atual uma ideologia cruel e alienante, com qual é necessário ter muita atenção para que não se deixe levar.
            É importante que fique claro, que não temos a pretensão de desconsiderar ou inferiorizar a gestão aqui. Mas, queremos, com certeza, problematizar a atual forma de gerir. Será que gerir própria vida significa apenas se planejar em termos de rentabilidade e traçar metas profissionais? Será o ego um capital que precisa frutificar? Será o humano um capital? Por favor, será que se pode, em pelo menos um instante, pensar um acordo de convivência pacífica entre o gerir e cuidar? Afinal, uma ação não exclui a outra. Pensem conosco. O cuidar não diz uma humanização, do respeito e atenção ao outro? E a Gestão de Pessoas, por exemplo, não tem a missão de humanizar as organizações? (Aprendemos isto este semestre!) Então parece tão óbvio que todo gerir diz de um cuidado vice-versa.
             Mas, não é isto que ocorre na prática, insistimos em convocar o capitalismo para habitar todas as nossas ações e relações. É impressionante como que tudo fica tão bem descrito, claro e explicado quando se fala a partir de uma ótica financeira.  E é ai que reside à crueldade, pois, ao se negociar o viver, acaba-se por fragmentar o entendimento acerca do mundo. E logo, fica fácil falar de capital humano, moeda humana. E ouvimos e reproduzimos tais conceitos sem compreender a ideologia que os compõem.
            Lógica esta, que nos faz buscar formas mais lucrativas ou que proporcionem mais resultados para se gerir famílias, amores, sonhos, desejos e a própria sociedade. Lembrando que isto deve ser feito calculando-se resultados a curto, médio e longo prazo. E o melhor da história, a “Just time”, para que não se perca nem um minuto do desenvolvimento dos filhos, da convivência com os pais, dos almoços em família e etc.
            Como se percebe falar de gestão de si mesmo em contexto contemporâneo tem sido falar de planejamento, de traçar metas para o futuro, de elencar objetivos, pensar subsídios enfim falar de desenvolvimento. E claro, não se pode esquecer que “as novas tecnologias permitem instalar seu escritório em seu domicílio”, assim “o tempo livre pode ser aproveitado da melhor forma possível.” Mas, se tudo está tão mais fácil de gerir, por que as pessoas têm ficado tão estressadas? Por que as relações têm durado tão pouco? Não que tenham que durar muito, mas tanto tem se falado de angustia causada por solidão.
            É simples a resposta, a forma de gestão que tem sido desempenhada atualmente não concebe a possibilidade de coexistir junto ao cuidado. E o discurso atual tem nos levado a pensar a gestão amplamente, incluindo-a até mesmo no registro da afetividade, da sexualidade, do sonhar e do escolher. Assim, conseqüentemente o cuidar e a humanização tem se retirado aos poucos de todos estes lugares. Talvez seja esta a causa de tanta angustia e depressão. Então se propõe que pensemos juntos, como gerir e cuidar ao mesmo tempo?
            Espera-se que estes questionamentos sejam, de alguma forma, capazes de nos ajudar a mastigar a gestão contemporânea. E então, potencializar o processo de digestão destes conceitos que permearam as nossas aulas ao longo do semestre. Afinal, não se pode mais engolir os conceitos sem mastigá-los. A azia está ficando insuportável...



Josiane A. Martins de Ávila e Wanessa Mara da Paixão.

3 comentários:

  1. Que todos tenham ótimas férias e excelentes questionamentos...

    Com carinho,

    Wanessa Mara.

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  2. Parabéns meninas...muito bom o texto! =]
    Ótimas férias!
    Ass: Kenya Aline

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